sábado, 27 de setembro de 2008

História de nós, assassinos.

''(...) Cada um deles, homem ou mulher, já havia cometido um assassinato ou algum outro crime bem pesado. Mas devorar um ser humano? Para uma coisa tão terrível, pensavem, não, jamais estariam dispostos. E se admiravam como isso lhes fora fácil e, apesar de toda a perplexidade, não sentiam o menor assomo de arrependimento. Ao contrário! Embora o estômago lhes pesasse um pouco, seus corações estavam bem leves. Em suas almas sombrias havia, de repente, um clima eufórico. E em seus rostos repousava um suave brilho de felicidade, um brilho de donzela. Daí talvez o pudor de alcançarem o olhar e se olharem nos olhos. Quando o ousaram, primeiro furtivamente e depois abertamente, foram obrigados a sorrir. Estavam extraordinariamente orgulhosos. Pela primeira vez, haviam feito algo por amor.''
(O perfume - Patrick Süskind)

Fascinante.
Se eu precisasse descrever O perfume em uma palavra, seria essa: fascinante.

Me impressiona o fato de um autor contemporâneo ser tão renascentista, tão humanista. A trama - e QUE trama - é o de menos no livro.

Jean-Baptiste Grenouille nasce numa França fedorenta do séc. XVIII. É rejeitado pela mãe e qualquer outra pessoa que o acolha, por não exalar nenhum cheiro. Mas sente todos. Examina-os de uma forma assustadoramente complexa.
Todos os cheiros que sente não tem nada de anormal, até que uma noite sente um cheiro diferente. Um cheiro inigualável. Cheiro de virgens. Ele começa a matar pra 'pegar' esse cheiro. Mas quem mata no séc. XVII, sofre as consequências mais rápido que um piscar de olhos.

Não, ele não morre por isso, mas espera. Sua morte será muito, MUTO melhor (ou pior?) que se fosse por isso.

O livro mostra direitinho como o homem finge ser civilizado. Os tabus que a sociedade impõe de nada servem quando nós somos expostos a perigos, a vontades. Nossos instintos primitivos se sobrepõe a tudo - não importa o quanto tentemos controlá-los.

Jean consegue fazer um perfume que deixa as pessoas sem controle. Com uma simples borrifada, todos pederam a inibição (?). Todos viraram humanos. Humanos em sua forma mais simples, a verdadeira. Com uma simples borrifada, todos viraram canibais (vide texto lá de cima). E isso, ISSO SIM é fascinante.



Como Süskind conseguiu tornar essa idéia antiga tão original?

ps. Sweetie, MUITO obrigada por ter emprestada. Brigada, brigadão.

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